Neste 10 de setembro, Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, o Pequeno Príncipe, maior hospital exclusivamente pediátrico, como sede em Curitiba e referência em atendimentos dessa natureza, lembra que o cuidado com a saúde mental, com o acompanhamento de especialistas, é a melhor forma de combater o problema. Infelizmente, a realidade no país chama a atenção. De 50% a 60% de pessoas que morreram por suicídio nunca se consultaram com um profissional de saúde mental ao longo da vida, de acordo com dados divulgados pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).
O dado é alarmante, tendo em vista que o suicídio continua sendo uma das principais causas de morte em todo o mundo e a quarta causa de óbitos entre jovens de 15 a 29 anos, segundo as últimas estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS). Ou seja, o tema é urgente e precisa ser discutido em todas as áreas de convívio social.
“O acolhimento é essencial para quem vive essa realidade. Desta forma, a pessoa sente-se protegida para falar e organizar as infinidades de sentimentos e pensamentos. Percebemos que as crianças são menos suscetíveis para as ideações suicidas, embora tenham a manifestação de sintomas depressivos ou quadros de ansiedade. A procura de um profissional de saúde mental é essencial”, explica a médica psiquiatra Maria Carolina Oliveira Serafim, coordenadora do Setor de Psiquiatria da Infância e Adolescência do Hospital Pequeno Príncipe.
Maior incidência entre os jovens
Os dados comprovam que os adolescentes são mais propensos ao problema. No Pequeno Príncipe, de janeiro a agosto de 2021, foram notificados 21 casos divididos entre tentativa de suicídio e autoagressão contra 12 ocorrências registradas durante o mesmo período do ano passado, ou seja, um aumento de 75%. As maiores incidências foram verificadas entre maio e agosto, sendo 18 do sexo feminino e todas na faixa etária dos 10 a 16 anos.
A médica especialista em Medicina do Adolescente do Hospital Pequeno Príncipe, Darci Vieira da Silva Bonetto, destaca que o adolescente vive uma fase de muitos conflitos com ele mesmo e em relação àqueles que o cercam. “Percebemos que esse público sofre uma série de transformações e que nem sempre são aceitas, gerando frustração. Isso gera conflitos internos, normais nesse período. Entretanto, o que leva o adolescente ao suicídio é o ambiente onde ele vive, as pessoas com quem ele convive, o uso de drogas e outras substâncias, a questão genética e, principalmente, a existência de alguma doença mental, como depressão, bipolaridade ou outros transtornos”, enfatiza.
São registrados mais de 13 mil suicídios todos os anos no Brasil, sendo que 96,8% dos casos estavam relacionados a transtornos mentais, segundo a ABP. “Com a pandemia, percebemos que as expectativas dos adolescentes foram ainda mais frustradas. Os familiares passaram a trabalhar em casa, mas isso não fez, necessariamente, com que estivessem mais próximos de seus filhos. E isso se soma com a falta de perspectiva e angústia gerada pelo período”, completa Darci.
A pediatra ressalta que uma pessoa emocionalmente bem e equilibrada não chega ao extremo do ato suicida, por isso é muito importante a família fazer-se presente e estar sempre atenta às mudanças repentinas de comportamento e alterações de humor. “Além disso, é necessário ver o que a criança está consumindo, com quem está falando, quem são os amigos e influências. Principalmente na internet é muito comum que os jovens sofram cyberbullying ou participem de desafios e jogos on-line que colocam suas vidas em risco. A orientação, nesse caso, é essencial”, finaliza a médica.
Alguns sinais em crianças e adolescentes merecem atenção e indicam a necessidade de acompanhamento psicológico e/ou médico:
CRIANÇAS
– Mudanças repentinas de comportamento, como: isolamento, impulsividade, tristeza constante, insegurança e agressividade.
– Percepção distorcida da própria imagem e baixa autoestima.
– Dificuldade de relacionamento com pessoas da mesma idade.
– Queda no desempenho escolar ou falta de vontade de ir à escola.
ADOLESCENTES
– Introversão associada a momentos de agressividade.
– Automutilação em regiões não visíveis, para esconder.
– Atração por comportamento de risco.
– Geralmente comem muito ou comem menos que o usual.
– Mudança de sono, insônia ou dormem demais.
– Dificuldade de se motivar em fazer o que antes era prazeroso.
– Sentimento de abandono.
– Desesperança em relação ao futuro.
– Uso de álcool e outras drogas.
A psicóloga do Pequeno Príncipe, Angela Bley, destaca algumas atitudes que familiares, amigos e pessoas próximas podem adotar diante dos sinais de risco de suicídio na infância e adolescência:
– Incentivar a procurar ajuda de profissionais especializados em saúde mental.
– Acolher de forma carinhosa e mostrar-se disposto a conversar e disponível a ouvir.
– Estar próximo, numa relação de confiança, e saber sobre a vida da pessoa.
– Incentivar a acreditar em seu potencial e elogiar sempre que possível.
– Não fazer julgamentos prévios e preconceituosos, como “quem ameaça não se mata”.
– Não fazer interpretações de que o suicídio é uma forma de chamar atenção.
– Não deixar o adolescente sozinho, principalmente se perceber que há perigo iminente.
– Não comparar problemas, sofrimentos, conquistas ou atitudes com outras pessoas.
– Nunca minimizar, desvalorizar, rotular, abandonar, incentivar ou desafiar.
– Sempre levar a sério, escutar sem julgamento, oferecer ajuda e acompanhar.